domingo, maio 29, 2005

Sociedade do Rei Vai Nu

Defino a sociedade de hoje como “a sociedade de O Rei Vai Nu”.
Cada vez mais me vem à memória essa história que me contava o meu pai quando era pequena. Porquê? Parece ter pegado moda gostar-se de coisas absolutamente incríveis, inconcebíveis… arte estapafúrdia, literatura imperceptível, música inaudível e por aí fora. Ora, entre os “admiradores” trocam-se elogios sem fim, tudo é “fantástico e lindo” mas sempre me da a sensação de que nas suas cabecinhas se esmifram por achar sentido aquilo que vêm/ouvem/lêem… ou seja, vêem que o rei vai nu, mas não tendo coragem para admiti-lo preferem elogiar-lhe as pomposas roupas! até que chega a criancinha que, a rir e a apontar para a figura deplorável do rei grita “ O REI VAI NU!! O REI VAI NU!!!!” ah…abençoada criancinha…como farias falta agora!
É que isto faz-me mesmo impressão! Estou mesmo a imaginar, de noite levantam-se, sacam do seu transístor e põem-se a ouvir o “Oceano Pacífico” e a ler o último romance de Danielle Steel até que, aos primeiros raios de sol, mudam rapidamente a frequência, põem o rádio em AM em que os sons despertam para a realidade (yeah right!) e enquanto tomam o pequeno almoço acabam o livro intitulado “NADA” 2.000 dissertações sobre o nada, para a tertúlia dessa noite.
Não quero com isto pôr-me contra a cultura, nem vou aqui dizer (nem aqui nem em lado nenhum!) que o que Picasso pinta o podia fazer qualquer miúdo na escola (até me arrepia!). O objectivo é totalmente o oposto, simplesmente acho que isto de ser “intelectualóide” é uma fachada descomunal, que em vez de promover a cultura a despromove porque a restringe ao máximo, e a meu ver, há que ver-se, saber-se um pouco de tudo (também do mau e do vulgar) para ser-se culto… E mais, ao ser uma classe elitista, que julga os outros burros e incultos desde o princípio (a menos que se vistam de forma bizarra, sejam gays e/ou neuróticos), deitam abaixo os princípios de grupos com cultura, que deveria ser, expô-la a quem quisesse saber…
Como exemplo ilustrativo da sociedade do Rei Vai Nu, lembro-me duma história que me contaram sobre uma miúda que, desejosa de entrar num grupo de “so called” intelectualóides resolveu ir a um concerto de um “also so called” artista. Senta-se toda contente, e o concerto consistia em: o tipo senta-se ao piano e põe-se desenfreadamente a dar murros na caixa do piano (não sei como se chama a parte que tapa as teclas), claro está que, passados dois segundos a pobre coitada abandonou a ideia de juntar-se ao grupo…

E com isto termino, viva a moderação, vivam as historias infantis!!